quinta-feira, 7 de abril de 2011

 

REVIVENDO...


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

 

caso shell Paulínia

                           Meu pai, década de 60, construindo nossa casa


Uma história do Recanto dos Pássaros
(antigo Poço Fundo)

"Volto meu pensamento para o ano de 1955!
- Alegria! Papai comprou um pesqueiro às margens do rio Atibaia, em Paulínia, para nossas férias e fins de semana.
Paulínia!
A igreja, a padaria, o açougue, o armazém, o coreto e a estação de trem!
O pesqueiro! No Poço Fundo (hoje Recanto dos Pássaros)!
A mata virgem! A água limpa do rio! O cheiro da mata! Os serelepes! As borboletas! Os sagüis! As jaguatiricas! O lobo Guará! Que medo! Que alegria no mato catando favas de baunilha que caiam das orquídeas! Quanta farra, nadando e pescando no rio! Quanta beleza na piracema, milhares de peixes subindo o rio!
Tijolo por tijolo meu pai construiu o nosso refúgio!
Por vezes levava o saco de cimento nas costas, da "Vila" até lá (5 quilômetros).
A areia grossa tirava do meio do rio, a fina do barranco e o tijolo, feito a mão, o "Zé Joaquim" levava no carro de boi!
Quanta felicidade formando o pomar! Acompanhando o crescimento de cada muda! A primeira flor, o primeiro fruto de cada espécie, que era sempre dividido entre nós! Lá era o nosso Paraíso.
Em outubro de 1971 meu pai faleceu, em dezembro mudei para lá.
 Na mesma década a Shell se instalou no meu portão.
Imponente, poderosa, dominadora e arrogante!
 Era o "Progresso" que chegava!
O "Desenvolvimento", o "emprego para o povo"!
O ar, misturado com a fumaça das chaminés, passou a cheirar formicida!
 O vento trazia um cheiro ardido que queimava os olhos e fazia vomitar!
A água passou ter gosto de remédio!
Em 1995 a autodenuncia.
Em fevereiro de 2003 a interdição do bairro.
 Em abril de 2003 a remoção dos moradores..
 Em 1º de abril de 2004 recebo um Mandado de Citação, ..
."ação de execução provisória de obrigação de fazer"! Obrigação de vender "meu Paraíso"!
E em meio a muitas humilhações só faltou a inversão dos fatos!
Hoje me encontro hospedada em um hotel de Paulínia, pago pela Shell,
não por vontade própria ou opção e sim para cumprir ordens e obedecer à justiça.
Humilhações, restrições, discriminações, falta de privacidade e imposições passaram fazer parte da minha vida depois que fui obrigada, até intimidada, com possível remoção com força policial, caso não desocupasse, por bem, o "meu" imóvel e viesse me instalar num hotel da região, ou seja, para o confinamento.
Desfrutando de um cardápio farto, porém não compatível com minhas necessidades, tento me adaptar.
Vivendo entre quatro paredes, respeitando regras e horários, tento sobreviver com equilíbrio e dignidade.
Separada do meu trabalho, dos meus animais, da minha maneira de viver, da liberdade e autonomia que sempre desfrutei, procuro não sucumbir.
Decepada nas minhas raízes, obedecendo a determinações e cumprindo a lei, agonizo.
Nunca, em minha vida, cogitei sair da minha casa, onde eu colhia minhas frutas e verduras o ano todo, onde eu tinha a paz necessária para fazer meu artesanato, onde eu criava minhas vacas, onde, e donde, tirávamos o sustento da família.
Em nenhum momento ninguém se mostrou responsável ou se preocupou com a extensão dos danos causados, só querem tomar posse da minha chácara pelo preço que eles estipularam e "remediar" o local, já que é "quase impossível recuperar".
E quem perde com isso? É o povo brasileiro!
Porém não têm dinheiro que pague a vida, os sonhos, os anseios, a felicidade, o amor, a segurança e o sorriso de uma criança de barriga cheia!
Omissões e acidentes criminosos contra o meio ambiente continuam impunes por esse Brasil afora.
Multinacionais continuam envenenando nossa água, nosso solo, nosso ar, nossa saúde.
E os órgãos Municipais competentes o que fazem de concreto?
Usam o evento para ganhar eleição?
Planejam grandes Parques Florestais em área contaminada?
Mandam a gente economizar água para não faltar para as Multinacionais envenenarem?''

Ciomara de Jesus Rodrigues
Moradora do Recanto dos Pássaros há 32 anos
ciomara


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