domingo, 17 de abril de 2011

 

15/02/2001

Shell terá de descontaminar área vizinha à fábrica de Paulínia (SP)

Notícia - 15 - fev - 2001
Prefeitura poderá pedir a intervenção da área

O Greenpeace demandou hoje da Shell Química do Brasil a responsabilidade total pela limpeza da área vizinha à fábrica de Paulínia, contaminada por agrotóxicos organoclorados durante dez anos.

Esta semana, o Centro Tecnológico de Saneamento Básico (Cetesb) ordenou que a empresa descontamine a área ao redor da fábrica, localizada a 90 quilômetros a leste de São Paulo. A Shell produziu ali os agrotóxicos organoclorados aldrin, dieldrin e endrin durante as décadas de 70 e 80. A empresa tem trinta dias para apresentar um plano de descontaminação.

No dia 08 de fevereiro, a Shell admitiu publicamente que a contaminação havia ultrapassado os limites da fábrica, atingindo o terreno vizinho. As substâncias eldrin, dieldrin e aldrin foram encontradas no lençol freático das chácaras vizinhas ao Rio Atibaia, um dos principais afluentes do Rio Piracicaba. O Rio Atibaia também abastece de água cidades da região, como Sumaré e Americana. Desde a semana passada, a empresa tem fornecido água potável para a comunidade e comprado as hortaliças produzidas pelos chacareiros, que foram vendidas na região por muitos anos.

Hoje, representantes da Shell, da comunidade de moradores, Ministério Público, Cetesb e Greenpeace vão se reunir para discutir medidas de remediação e avaliar os impactos ambientais na área. Durante o encontro, Shell e Cetesb devem apresentar os relatórios finais e a conclusão das amostras coletadas na área vizinha à fábrica.

Os últimos resultados indicam que a contaminação está se dispersando entre a comunidade e pode ter atingido o Rio Atibaia. Os pontos de contaminação, segundo dados da empresa, apontam concentrações de dieldrin 16 vezes maiores do que o permitido por lei. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente encaminhou, esta semana, um pedido à Prefeitura para interdição da área contaminada. A decisão para uma possível evacuação da área está na pauta da reunião de hoje.

"A Shell finalmente admitiu que contaminou o lençol freático com agrotóxicos organoclorados e que a contaminação ultrapassou os limites da empresa. A descontaminação de toda a área afetada é responsabilidade total da empresa", disse Karen Suassuna, coordenadora da Campanha de Substâncias Tóxicas do Greenpeace Brasil. "Precisamos agir imediatamente e avaliar com urgência se o rio Atibaia, que fica atrás da fábrica, também foi contaminado", completou Karen.

O aldrin, dieldrin e endrin, também conhecidos como Drins, são agrotóxicos banidos na maior parte do planeta. Eles causam danos no meio ambiente e foram classificados como Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A exposição aos Drins foi relacionada a uma ampla gama de efeitos no meio ambiente e na saúde, incluindo disfunções de aprendizado e interrupção dos sistemas nervoso central e hormonal. Uma preocupação particular diz respeito aos efeitos em crianças e no desenvolvimento de fetos.

A Shell Química iniciou a produção de agrotóxicos em Paulínia em 1975. A fábrica produziu endrin, aldrin e dieldrin (1) durante dez anos. Neste período, foram registrados três vazamentos destas substâncias. Em 1985, um mandato do Ministério da Saúde proibiu a produção destes agrotóxicos.

Em 1995, a Shell vendeu sua fábrica em Paulínia para a multinacional americana Cyanamid. Atualmente, a proprietária do terreno é a Basf, gigante química da Alemanha. Como parte do acordo comercial de compra e venda, a Shell divulgou, em 1995, a contaminação do solo da fábrica e fez uma auto-denúncia junto ao Ministério Público. Até hoje, nenhuma medida eficiente de descontaminação da área foi adotada.

"Eu quero acreditar que este é o início do processo que vai pôr fim a esta história de contaminação química. Quero ver a Shell se responsabilizando por envenenar minha terra e causar sofrimento a esta comunidade. Quero ser indenizado. Quero justiça", disse Paulo Bonaldi, representante da comunidade de Paulínia.

(1) Aldrin, Dieldrin e Endrin estão na lista dos 12 POPs do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, cuja eliminação global está prevista no tratado internacional, assinado por mais de cem países. A Convenção POPs será assinada em maio, em Estocolmo, Suécia. Os "12 Sujos", como são conhecidos, são: dioxinas, furanos, PCBs, hexaclorobenzeno, mirex, heptacloro, DDT, dieldrin, clordano, toxafeno, aldrin e endrin.

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