segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

 

"NUM" FALO, "NUM" FALO, "NUM" FALO!!!!


Publicada em 9/12/2007
Cidades
Caso Shell: famílias continuam em hotel
Há mais de quatro anos, ex-moradores de chácaras contaminadas por pesticidas vivem sem qualquer perspectiva e privacidade

Marcelo Andriotti DA AGÊNCIA ANHANGÜERA mailto:ANHANGÜERAmarcelo.andriotti@rac.com.br
Antonia acorda todas as noites há quatro anos e meio no quarto do hotel onde mora com sua família em Paulínia. Seu sono é interrompido pelos rugidos do leão do zoológico que funciona no bosque ao lado. Ela está acostumada com os lamentos noturnos do animal e não se incomoda em ser acordada. “O que me deixa triste toda vez que o ouço é perceber que eu e ele passamos pela mesma situação.
Vivíamos em liberdade, no meio da natureza, e hoje estamos enjaulados sem ter feito nada para merecer isso”, diz. Antonia Pelegrini é uma das ex-moradoras do bairro Recanto dos Pássaros, contaminado por uma fábrica da Shell, tema que abre uma série de reportagens que o Correio publica a partir de hoje.
A família de Antonia é uma das duas que desde 2003 vive no hotel de Paulínia com despesas custeadas pela empresa.
Em 2001, a multinacional começou a comprar chácaras do bairro afetado pela contaminação. Em 2003, todos os moradores que ainda viviam no local foram transferidos de suas chácaras por ordem da Justiça com gastos pagos pela Shell, muitas delas indo para o hotel.
A empresa admitiu que contaminou a área por meio de uma autodenúncia após detectar contaminação em uma área interna em 1993, quando fez uma avaliação para vender sua unidade de agrotóxicos. Mas ela não admite ter contaminado seus ex-funcionários e nem os ex-moradores.
Os exames e diagnósticos feitos pelo toxicologista Igor Vassilieff não são aceitos pela Shell e o caso se arrasta na Justiça.
O especialista detectou a presença de metais pesados e organoclorados, substâncias usadas na fabricação de pesticidas, no organismo dos moradores.
Enquanto isso, ex-proprietários, caseiros que trabalhavam nas chácaras e ex-funcionários vivem um calvário marcado por humilhações, privações e o medo constante de estarem desenvolvendo doenças causadas pela contaminação que a multinacional não admite existir.Antonia viu os filhos crescerem e o marido morrer no período em que está no hotel. Hoje, os filhos têm 11, 15 e 24 anos e mal podem receber os amigos no local onde moram. “Por melhor que seja o hotel, você não pode receber amigos e familiares como se fosse sua casa.
Só tenho um pouco de privacidade dentro do quarto. Ao abrir a porta e pisar no corredor, já estou em um local público”, diz.
Os filhos não têm onde brincar com os amigos ou namorar. A vontade de fazer um lanche de noite, coisa corriqueira para quem mora em casa, pode se transformar em um transtorno. É preciso se vestir e se arrumar para descer até o restaurante pegar algo.
Para driblar esse problema, Antonia tem um microondas dentro do quarto e guarda comida.
Vale
Situação bem diferente ela vivia cinco anos atrás, quando morava na propriedade de 20 alqueires que a família de seu marido comprou na década de 60. A região do bairro era zona rural, um vale onde viviam pequenos produtores.
Em 1977, a Shell instalou na região sua fábrica de agrotóxicos.
Valdemar Labello, marido de Antonia, estava com câncer na bexiga e morreu vítima de complicações cardíacas em 2005. Não está comprovada a ligação da contaminação com a doença. Ele criava gado e tinha um pequeno comércio na chácara. O sonho do casal era criar os filhos no meio da natureza, com muita saúde, tranqüilidade e espaço. Quando apareceram funcionários da empresa levando água e pedindo para que não bebessem mais o que retiravam dos poços e aconselhando a não comer ou comercializar o que produziam por lá, o casal começou a perceber que o sonho estava se tornando um pesadelo.
Após 2003, ao saírem da propriedade, precisaram vender o gado, o cavalo, fechar o comércio.Os cães e o gato foram levados para um canil. Os móveis e outros pertences, guardados em um barracão até que uma nova casa ou chácara seja comprada.
Antonia não entende por que a Shell paga todas essas despesas mensais e não aluga uma casa ou chácara, que ficaria muito mais barato para a empresa e muito mais aconchegante e humano para a família. “O que mais incomoda é a insegurança e a dúvida sobre o futuro causadas pelo situação que vivemos aqui”, afirma.
Ressarcimento
Antonia quer ser ressarcida pela propriedade que perdeu e pelo lucro cessante, levando em consideração que a família vivia da renda gerada pela propriedade rural. Também quer indenização por danos morais e garantia de acompanhamento médico. Por isso, não aceitou a proposta inicial feita pela Shell.
A outra moradora que está com sua família no hotel vive a mesma situação. Mas prefere não falar com a imprensa. Cansou até de dar entrevistas sobre o caso e sua situação. (é ieu!!!)
SAIBA MAIS
Em 2001, o Correio Popular conquistou o Prêmio Esso com a série de reportagens Contaminação em Paulínia, produzida pelos repórteres Mário Rossit e Marcelo Villa, sobre os graves danos ambientais e à saúde dos moradores do bairro Recanto dos Pássaros, causados pelo vazamento de pesticidas da antiga fábrica da Shell entre os anos 70 e 90.
Entre as reportagens da série, o jornal detalhou o resultado dos exames toxicológicos que apontaram a contaminação de 153 moradores das chácaras do Recanto dos Pássaros com drins, produtos cancerígenos manipulados pela Shell.
A reportagem relatou o drama humano de moradores que já haviam desenvolvido tumores e passavam por tratamentos de saúde.
Caseiros e proprietários enumeram dificuldades
Os caseiros e pequenos proprietários que fizeram acordo com a Shell para deixar o Recanto dos Pássaros estão passando necessidades. Os que tinham famílias de até cinco pessoas receberam R$ 25 mil para comprar uma casa e os com mais de cinco, R$ 30 mil. Com isso, conseguiram apenas casas muito modestas e precisaram colocar mais dinheiro para fazer o negócio.
Quando moravam nas chácaras, eles tinha uma renda mensal de cerca de R$ 800,00, além de casa, luz e água de graça e os alimentos garantidos pelo plantio e criações.
Também não pagavam o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Muitos deles tomavam conta das chácaras e trabalhavam meio período fora.
Com a mudança, passaram a ter mais gastos e dificuldades para conseguir empregos.
Lúcia Aparecida do Nascimento, Claudomiro de Oliveira, José Francisco do Nascimento, Maria Aparecida Bueno de Souza e Jovair Souza vivem essa situação.
Os irmãos Clóvis Rodrigues Bueno e Benedito Aparecido Rodrigues Bueno eram proprietários. Eles receberam R$ 67 mil pela chácara de 1.945 metros quadrados. Também perderam a fonte de renda e, com o dinheiro, compraram duas casinhas e colocaram dinheiro do bolso.
Reunidos em uma casa no Nosso Teto, bairro popular de Paulínia, eles contaram as mesmas histórias de doenças e dificuldade em conseguir trabalho.
Muitas das crianças têm problemas como dor de barriga e outras doenças desde o nascimento. Muitos casos de câncer e doenças de pele são relatados por eles.
Tratamento
Eles tiveram tratamento médico de especialistas por poucos meses depois que saíram do bairro, que foram bancados pela Prefeitura de Paulínia. Com a Shell, eles continuam brigando na Justiça para conseguir custeio para tratamento médico.Os tratamentos realizados pelo toxicologista Igor Vassilieff foram interrompidos e eles não recebem mais medicamentos. As consultas e tratamentos são feitos em postos de saúde e não há atendimento por especialistas.
Novas perícias que deveriam ser feitas por ordem judicial foram canceladas duas vezes.Para conseguir emprego, eles dizem enfrentar preconceito pelo fato de terem morado no Recanto dos Pássaros.
Muitos empregadores querem evitar os ex-moradores por acreditar que eles terão a produtividade afetada pelos problemas de saúde. (MA/AAN)
Multinacional nega contaminação humana
A Shell não respondeu por que mantém as famílias hospedadas em hotel e não em casas ou chácaras, o que seria mais barato para a empresa e confortável para os ex-moradores.
Segundo comunicado da multinacional, “Os valores sobre remoção, bem como de negociações entre a Shell e ex-moradores do Recanto dos Pássaros são assuntos particulares e, dessa forma, não são divulgados pela empresa ... (a empresa) sempre buscou entendimento com as famílias hospedadas no hotel.
No entanto, diante das negativas recorrentes às diferentes propostas apresentadas pela empresa o assunto se encontra, atualmente, sob mediação do Judiciário”.
A multinacional também afirma que fez exames de sangue em 159 moradores e ex-moradores em laboratórios no Brasil e no Exterior, e que não há evidência de pessoas intoxicadas.
Os resultados foram apresentados, de acordo com a empresa, a especialistas em toxicologia, que confirmaram a inexistência de evidências de doenças relacionadas com a contaminação ambiental
Quanto ao relatório de saúde apresentado pela Prefeitura de Paulínia, a Shell encaminhou para a análise de especialistas que apontaram erros de metodologia, processos e interpretação. Por isso, o trabalho está sendo contestado na Justiça pela multinacional.
Informa ainda que não é possível afirmar que trabalhadores estejam contaminados pelo fato de terem trabalhado em uma instalação onde foi detectada uma contaminação do solo em área restrita.
A empresa de agrotóxicos da Shell foi implantada em Paulínia em 1977. Em 1993, durante auditoria para a venda da unidade para a American Cyanamid foi feita a autodenúncia.
A partir de 2000, a unidade passou a ser ocupada pela Basf, que também responde a processos de ex-trabalhadores por supostas contaminações.
Os planos de recuperação ambiental do bairro prosseguem com uma barreira hidráulica e uma estação de tratamento de águas subterrâneas em pleno funcionamento.
A prioridade da Shell é dar continuidade à recuperação ambiental daquela área onde funcionou sua antiga fábrica.
Os projetos de remediação são constantemente apresentados pela empresa às autoridades competentes, segundo informou a empresa.
As análises ambientais e de risco realizadas pela Shell, baseadas em modelos internacionais, apontam para a inexistência de risco à saúde se observada a restrição ao consumo e uso das águas subterrâneas. (MA/AAN)
Orgulho de ver o progresso chegar deu lugar à depressão
Muitos ex-moradores que viviam no hotel não agüentaram os inconvenientes, a impessoalidade e o desconforto de viver fora de sua própria casa.
Antônio de Pádua Mello morou no hotel até pouco mais de dois anos, quando sentiu que estava tendo ataques cada vez mais fortes causados por uma insuficiência respiratória.
A vida no hotel o deixava cada vez mais deprimido e ansioso, o que agrava seu estado de saúde e levou a várias internações.“Chegava no hospital quase morto. Precisava sair de lá se quisesse continuar vivendo”, afirma Mello. Em setembro de 2004, a Shell chamou seu advogado para negociar. Sua chácara foi avaliada em R$ 670 mil e ele pediu R$ 400 mil para vendê-la à multinacional.
A empresa disse que pagaria, desde que ele retirasse todas as ações judiciais. Mello recusou, mas, passado algum tempo e com sua saúde piorando, acabou aceitando.“Tive a ilusão que saindo de lá iria esquecer da história ruim e melhorar da minha depressão. Mas continuei mal, nem consigo sair e ir para o Centro de Campinas ver familiares”, diz Mello. Ele comprou uma casa em Barão Geraldo e vive com a mulher, um filho, nora e neta. Por um período, a filha e o genro também moraram com ele.Mas nada se compara com o período em que vivia na chácara com toda a família: três filhos, cinco netos, a mulher e a sogra.
Quando ele viu a Shell se instalando no local, não foi contra. “Fiquei até orgulhoso de ser vizinho de uma multinacional. Era o progresso chegando”, lembra.Mas quando começou a poluição, com o mau cheiro invadindo sua casa ele viu que o progresso poderia cobrar um preço muito alto. “O incinerador da fábrica era obsoleto e o cheiro era insuportável. Precisava colocar ventiladores dentro de casa voltados para a janela”, diz Mello.Ex-gerente de uma rede de lojas aposentado, Mello recebe aposentadoria de R$ 1.150,00 e precisa gastar parte do dinheiro que sobrou após comprar a casa para pagar suas contas mensais. “Estou vivendo assim até o dinheiro acabar, depois não sei como vou viver.
O que ganho não dá para pagar as despesas da casa e os remédios que precisamos usar”, diz. (MA/AAN)

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TEM UMAS COISAS AÍ QUE NÃO SÃO VERDADES, NÃO QUE O JORNALISTA MUDOU E SIM QUE MENTIRAM PARA ELE.
Quem leu meu blog desde o começo vai perceber.

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