domingo, 25 de junho de 2006

 

organoclorados POP'S

WWW.ESCOLASVERDES.ORG/POPS.
Informação pormenorizada...
Sistema de desintoxicação.
O sistema de desintoxicação humano baseia-se em muitos casos na oxidação das moléculas poluentes por um grupo de enzimas denominado citocromos P450. Desta forma os compostos tornam-se mais reactivos e polares, facilitando a sua metabolização e excrecão, respectivamente. No entanto, este sistema está longe de ser perfeito. Por exemplo, ao serem induzidas por substâncias exógenas, as enzimas P450 podem transformar, para além dessas substâncias de que o corpo se quer libertar, outras que ocorrem naturalmente no organismo e são essenciais para o seu funcionamento. Outra das desvantagens do sistema decorre do facto de alguns derivados oxidados serem ainda mais tóxicos do que os seus precursores – uma situação, sem dúvida, caricata. Alguns destes metabolitos são genotóxicos: reagem com as cadeias de DNA, às quais se ligam, impedindo a sua transcrição. A célula possui mecanismos de reparação que podem, embora raramente, falhar. O resultado pode-se traduzir em moléculas de DNA com sequências nucleotídicas alteradas – ou seja, mutações – que, em certos casos, serão responsáveis por cancro. Os metabolitos de PAHs apresentam normalmente este tipo de efeitos.
Metabólitos hidroxilados.
No caso das dioxinas e dos PCBs, depois de oxidados, sucede-se normalmente a sua hidroxilação. Formam-se, assim, metabolitos fenólicos, mais hidrófilos ainda, que são facilmente expulsos. Alguns metabolitos de PCBs, porém, ficam retidos no corpo. Foram até encontrados em elevadas concentrações no sangue de ratos e de martas criados em laboratório. Descobriu-se que estas substâncias competiam com uma hormona tiróidea pela ligação a uma proteína transportadora (devido à sua semelhança estrutural), o que resultou na deficiência da referida hormona. No caso dos humanos este efeito não é, provavelmente, tão grave.
Metabólitos metilsulfônicos
Outra falha do sistema de desintoxicação consiste na transformação de certos poluentes persistentes em compostos que são pelo menos tão difíceis de excretar quanto os seus precursores. É o que acontece, por exemplo, com os metabolitos de certos congéneres de PCBs, em que a acção de um citocromo P450 resulta na adição de um grupo metilsulfónico. A molécula resultante é facilmente retida no corpo, em parte devido à sua razoável lipossolubilidade. O DDE também pode ser transformado num metabolito metilsulfónico com características semelhantes e com grande propensão para se concentrar nas glândulas supra-renais. Experiências com ratos mostraram que estes compostos são, por sua vez, transformados num metabolito que ataca as próprias proteínas celulares e que pode atingir níveis tóxicos. Sendo as glândulas supra-renais um dos órgãos do sistema endócrino, este efeito pode ter consequências altamente gravosas para o organismo. Nas focas do Báltico, estas glândulas apresentam um tamanho anormalmente grande.
Dioxinas.
As dioxinas, mesmo em pequenas doses e exposições curtas, podem ter efeitos letais – ou seja, apresentam elevada toxicidade aguda. A morte, porém, não ocorre imediatamente: verifica-se normalmente algumas semanas depois da exposição, mesmo quando a dose é bem superior à mínima considerada letal. Por outro lado, mesmo quando a dose é significativamente inferior à letal, ainda se fazem sentir alguns sintomas. Um dos principais e generalizado a todas as espécies estudadas é a redução do tamanho do timo, uma glândula que faz parte do sistema imunitário. As dioxinas provocam um desgaste deste órgão e fazem diminuir o número de linfócitos T no corpo, tornando-o mais susceptível à infecção e, consequentemente, ao cancro (visto que a capacidade do organismo em reconhecer e eliminar as células cancerosas fica diminuída). Se a exposição ocorrer durante a infância ou puberdade, a principal fase de desenvolvimento do timo e a altura em que este se encontra mais activo, os riscos são acrescidos. O mecanismo preciso que explica tais fenómenos não é, ainda, perfeitamente conhecido.
Um dos processos de acção mais bem conhecidos é ao nível da ligação ao receptor Ah (uma proteína citosólica), também conhecido como receptor de dioxinas. A ligação a estes receptores é um passo determinante para desencadear a toxicidade e os efeitos bioquímicos das dioxinas. Os receptores Ah parecem ter duas funções principais: mediação de efeitos tóxicos de compostos xenobióticos e regulação do desenvolvimento de órgãos. Estas proteínas já foram detectadas em várias espécies e tecidos, inclusivamente nos pulmões, fígado, timo e glândulas supra-renais. As dioxinas alteram ainda vários processos de diferenciação celular, incluindo o das células T. Os tecidos epiteliais (tanto os da pele como os que revestem os diversos órgãos) são particularmente sensíveis a este respeito. O cloracne é uma doença sintomática da exposição às dioxinas e que resulta na diferenciação anormal das células da epiderme. As glândulas sebáceas passam a produzir queratina em vez de sebo, conduzindo à formação de quistos em redor dos folículos capilares e ao espessamento e endurecimento da epiderme. Durante a gravidez, a alteração dos processos de diferenciação celular pode provocar deficiências do feto ou mesmo conduzir à sua morte. É de salientar que os efeitos observados dependem da espécie em questão.
Embora as dioxinas pareçam ser incapazes de desencadear os mecanismos que conduzem ao cancro, são extremamente efectivas na promoção do seu desenvolvimento – sobretudo as mais tóxicas, como a 2,3,7,8-TCDD. Este processo pode demorar anos e requer uma exposição continuada. Aparentemente, se a exposição cessar, o crescimento tumoral pode parar e, até certo ponto, ser revertido. No entanto, considerando a persistência das dioxinas, o hiato necessário para que tal ocorra pode ser prolongado. Assim, se o desenvolvimento continuar, o tumor passa à fase de progressão, acompanhado da formação de metástases e multiplicação celular descontrolada. Nesta fase, a presença ou não de dioxinas já é indiferente. Pensa-se que a indução carcinogénea esteja relacionada com o bloqueio intercelular da transferência de substâncias – um fenómeno indispensável à manutenção da homeostasia e, portanto, da saúde da célula. Outros compostos como o DDT e os PCBs estruturalmente afastados das dioxinas também podem causar efeitos semelhantes, ainda que por mecanismos diferentes. Também o metabolismo da vitamina A (retinol) é alterado pelas dioxinas. Esta substância – que o corpo não é capaz de sintetizar – é essencial para o bom funcionamento do sistema imunitário e para o desenvolvimento fetal ou, como é actualmente sugerido, está de alguma forma relacionada com praticamente todos os processos vitais. Depois de esterificado, o excesso de vitamina A é armazenado no fígado que assim consegue manter o nível da vitamina no sangue quase constante. As dioxinas, todavia, inibem a acção da enzima que cataliza a esterificação e, por conseguinte, também a armazenagem da vitamina. O resultado global é a desregulação do seu metabolismo (os níveis descem no fígado mas sobem no sangue). Eventuais consequências incluem desordens fetais e de crescimento, esterilidade e aumento da produção de queratina e do risco de cancro. Os metabolitos hidroxilados dos PCBs interferem com a proteína transportadora da vitamina fazendo descer os níveis sanguíneos desta, ao contrário do que acontece com as dioxinas.
Hormonas sexuais
Para além de poderem alterar a produção ou o transporte hormonal, vários POPs actuam ainda como mimetistas, ou seja, activando os receptores específicos, à semelhança das próprias hormonas. Apesar do corpo humano estar preparado para manter o equilíbrio endócrino – razão pela qual é, em princípio, capaz de suportar a ingestão de uma dose limitada de compostos com actividade hormonal – pode não conseguir tal feito quando exposto a certos poluentes. Entre eles incluem-se os alquilfenóis, alguns ftalatos, o DDT, DDE, clordano, vários congéneres e metabolitos hidroxilados de bifenilos polibromados (PBBs) e de PCBs, e, possivelmente, também o tetrabromobifenol-A e os PAHs, cuja estrutura é semelhante à dos estrógenos. O lindano e os compostos tipo dioxina, por outro lado, parecem apresentar um efeito anti-estrógeno (ou seja, bloqueando os receptores desta hormona). Entre os compostos com efeitos andrógenos inclui-se o tributil estanho (TBT). Em fêmeas de gastrópodes o TBT impede a eliminação da testosterona e inibe a conversão desta em estrógenos, pelo que os níveis da hormona masculina atingem valores anormalmente elevados.
O impacto do DDT e dos seus metabolitos na capacidade reprodutiva das aves também pode ter um fundo hormonal. Em investigações com embriões macho expostos ao DDT observou-se frequentemente o desenvolvimento de glândulas sexuais intermédias entre os testículos e os ovários. Já em 1960 se tinha verificado, principalmente nas aves de rapina, que níveis elevados daquele pesticida eram acompanhados de um adelgaçamento da casca dos ovos devido à falta de cálcio, de tal forma que estes se partem durante a incubação, impedindo a procriação. Pensa-se que tal esteja relacionado com o mau funcionamento da glândula secretora de cálcio devido aos efeitos hormonais do DDE.
O feto é especialmente sensível aos distúrbios endócrinos visto que, durante esta fase da vida, se podem induzir malformações e alterações ao seu desenvolvimento com consequências para toda a vida – nomeadamente ao nível dos órgãos sexuais, fertilidade, razão entre machos e fêmeas (nos peixes e nos répteis), etc.
Sistema nervoso
De todos os efeitos que podem advir da exposição aos poluentes persistentes, os neurológicos serão, porventura, os mais sérios. Visto que a capacidade de regeneração ou reparação do sistema nervoso é muito limitada, qualquer deficiência ou desordem pode ter consequências perenes. Não é de todo surpreendente que os POPs apresentem este tipo de efeitos. De facto, a toxicidade aguda (e portanto a eficácia no terreno) de muitos pesticidas persistentes decorre precisamente da sua actividade neurológica. O DDT, por exemplo, actua ao nível das membranas dos neurónios de forma a tornar os impulsos nervosos mais intensos e duradouros do que o normal. Por esta razão, os sintomas de intoxicação são caracterizados por tremores, convulsões, falta de coordenação e de equilíbrio, excitação e sobre-sensibilidade a diversos estímulos – que, no entanto, desaparecem nos sobreviventes após a degradação ou eliminação do poluente. Uma exposição semelhante durante o período de maior desenvolvimento cerebral (fundamentalmente no final do crescimento do feto, prolongando-se por alguns meses depois do nascimento), pelo contrário, poderá ter efeitos para toda a vida, entre os quais capacidade intelectual diminuída, deficiências motoras e de memória. A fase inicial da vida é, portanto, aquela que deve mede merecer maiores cuidados no que respeita à exposição aos POPs.

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