segunda-feira, 13 de março de 2006

 

uma reportagem de 2005

Campinas28/01/2005 - (21h26)

Shell acusa moradores de viver às custas da empresa
Patrícia Azevedo/Agência Anhangüera

As quatro famílias de ex-moradores das chácaras localizadas no bairro Recanto dos Pássaros, em Paulinia, que ainda não negociaram suas propriedades com a Shell Química do Brasil foram acionadas judicialmente pela empresa no ano passado. Na ação, a Shell pede que a Justiça determine que os proprietários aceitem o valor de mercado dos imóveis avaliados por empresas especializadas. A empresa argumenta, no pedido, que há resistência por parte de alguns moradores em aceitar o acordo e que eles estão acomodados "às custas da empresa" num hotel de luxo em situação definitiva. Em nota enviada à redação, a empresa informa que "há muito vem tentando um acordo com os poucos proprietários que, por motivos alheios à sua vontade, ainda não venderam suas propriedades". A empresa informa ainda que, para esses quatro casos, efetuou depósitos judiciais, cujos valores poderão ser retirados pelos proprietários quando a venda se concretizar. Em 2001 a Shell iniciou o processo de compra das chácaras e em abril de 2003 o bairro, que segundo laudos foi contaminado por pesticidas, teve que ser desocupado. Na época a Justiça determinou que a empresa se responsabilizasse pela acomodação das famílias que ainda não haviam vendido as suas propriedades. Elas deveriam ser alojadas em hotéis ou em casas alugadas que tivessem o mesmo padrão daquelas em que moravam. Desde abril daquele ano, a empresa acomodou as família no Hotel Íbis, em Paulínia. Passados 22 meses, quatro famílias ainda moram no hotel. Um dos moradores é o aposentado Antônio de Pádua Mello, de 74 anos. Ele alega que enviou uma carta à empresa sugerindo o aluguel de duas casas para a família ao custo de R$ 2,5 mil. "Eles não aceitaram e nos mandaram para cá para nos humilhar, disse. Nos separaram dos nossos cães e nos obrigam a conviver com estranhos, sem a mínima privacidade e sem poder receber a família" , lamenta. Acostumado a morar numa casa de 600 m2, Mello, a mulher e os filhos vivem em pequenos quartos de hotel, enquanto os seus móveis, roupas e livros estão armazenados em um depósito. Os cães estão alojados em canis. "Minha casa não foi feita para ser vendida, fiz para morar o resto da minha vida lá, receber a minha família, mas o bairro foi contaminado e todos tivemos que sair. Eu só quero ir para a minha casa" , conta. Mello não aceita que a empresa pague o valor de mercado do seu imóvel e entrou com uma ação solicitando que seja determinado o valor de reposição. "Meu cliente não colocou o imóvel à venda, portanto não deve ser adotado o valor de mercado e sim o valor de reposição. Ele quer ter em outro local o que tinha lá" , explica o advogado Waldir Tolentino de Freitas. Na ação, o morador argumenta que a empresa já gastou muito mais para mantê-lo no hotel do que o valor pedido pelo imóvel, que gira em torno de R$ 400 mil. De acordo com os cálculos do advogado, a empresa gastou R$ 659 mil para custear a alimentação e hospedagem da família e para acomodar os móveis e os cães. "Isso mostra evidentemente que a empresa pretende nos humilhar e tenta nos vencer pelo cansaço" , dispara Mello. Outra família hospedada no hotel é a de Antônia Pelegrini Labello. No seu caso, o acordo ainda não foi fechado porque ela quer que a empresa considere também que o imóvel era usado pela família para fins comerciais. "Nós produzíamos lá e tínhamos um negócio próprio. Isso não é avaliado no no valor de mercado" , argumenta. Antônia, que é vizinha de quarto de Mello, ficou viúva há uma semana e mora no local com os três filhos. "Nem no enterro do meu marido pude hospedar a minha família ou ter o apoio de algum familiar" , conta. No entanto, o que ela mais lamenta é que o marido, Valdemar Labello, não pode voltar para a casa. "Ele dizia que se sentia como um peixe fora da água aqui" , diz, emocionada.
___________________________________________________________________
_________________________________________________________________
Repito que o hotel no qual estamos "confinados" é de categoria economica.
Eu tenho casa, impostos pagos e independência financeira, só não posso usufruir do que é meu, porque estou impedida, em conseqüência de crime que não cometi.

Comments:

Postar um comentário





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?