segunda-feira, 18 de agosto de 2008
TUNEL DO TEMPO 06/2006
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
PAPAI
Uma história do Recanto dos Pássaros
“Volto meu pensamento para o ano de 1955!
- Alegria!
Papai comprou um pesqueiro às margens do rio Atibaia, em Paulínia, para nossas férias e fins de semana.
Paulínia!
A igreja, a padaria, o açougue, o armazém, o coreto e a estação de trem!
O pesqueiro! No Poço Fundo (hoje Recanto dos Pássaros)! A mata virgem! A água limpa do rio! O cheiro da mata! Os serelepes! As borboletas!Os sagüis! As jaguatiricas! O lobo Guará! Que medo! Que alegria no mato catando favas de baunilha que caiam das orquídeas! Quanta farra, nadando e pescando no rio! Quanta beleza na piracema, milhares de peixes subindo o rio!
Tijolo por tijolo meu pai construiu o nosso refúgio! Por vezes levava o saco de cimento nas costas, da “Vila” até lá (5 quilômetros). A areia grossa tirava do meio do rio, a fina do barranco e o tijolo, feito a mão, o “Zé Joaquim” levava no carro de boi! Quanta felicidade formando o pomar! Acompanhando o crescimento de cada muda! A primeira flor, o primeiro fruto de cada espécie, que era sempre dividido entre nós! Lá era o nosso Paraíso. Em outubro de 1971 meu pai faleceu, em dezembro mudei para lá. Na mesma década a Shell se instalou no meu portão. Imponente, poderosa, dominadora e arrogante! Era o “Progresso” que chegava! O “Desenvolvimento”, o “emprego para o povo”! O ar, misturado com a fumaça das chaminés, passou a cheirar formicida! O vento trazia um cheiro ardido que queimava os olhos e fazia vomitar!
A água passou ter gosto de remédio!
Em 1995 a autodenuncia. Em fevereiro de 2003 a interdição do bairro.
Em abril de 2003 a remoção dos moradores..
Em 1º de abril de 2004 recebo um Mandado de Citação, ...”ação de execução provisória de obrigação de fazer”! Obrigação de vender “meu Paraíso”!
E em meio a muitas humilhações só faltou a inversão dos fatos!
Hoje me encontro hospedada em um hotel de Paulínia, pago pela Shell, não por vontade própria ou opção e sim para cumprir ordens e obedecer à justiça.
Humilhações, restrições, discriminações, falta de privacidade e imposições passaram fazer parte da minha vida depois que fui obrigada, até intimidada, com possível remoção com força policial, caso não desocupasse, por bem, o “meu” imóvel e viesse me instalar num hotel da região, ou seja, para o confinamento.
Desfrutando de um cardápio farto, porém não compatível com minhas necessidades, tento me adaptar.
Vivendo entre quatro paredes, respeitando regras e horários, tento sobreviver com equilíbrio e dignidade.
Separada do meu trabalho, dos meus animais, da minha maneira de viver, da liberdade e autonomia que sempre desfrutei, procuro não sucumbir.
Decepada nas minhas raízes, obedecendo a determinações e cumprindo a lei, agonizo.
Nunca, em minha vida, cogitei sair da minha casa, onde eu colhia minhas frutas e verduras o ano todo, onde eu tinha a paz necessária para fazer meu artesanato, onde eu criava minhas vacas, onde, e donde, tirávamos o sustento da família.
Em nenhum momento ninguém se mostrou responsável ou se preocupou com a extensão dos danos causados, só querem tomar posse da minha chácara pelo preço que eles estipularam e “remediar” o local, já que é “quase impossível recuperar”. E quem perde com isso? É o povo brasileiro! Porém não têm dinheiro que pague a vida, os sonhos, os anseios, a felicidade, o amor, a segurança e o sorriso de uma criança de barriga cheia!
Omissões e acidentes criminosos contra o meio ambiente continuam impunes por esse Brasil afora. Multinacionais continuam envenenando nossa água, nosso solo, nosso ar, nossa saúde.
E os órgãos Municipais competentes o que fazem de concreto?
Usam o evento para ganhar eleição?
Planejam grandes Parques Florestais em área contaminada?
Mandam a gente economizar água para não faltar para as Multinacionais envenenarem?’’
Ciomara de Jesus Rodrigues
Moradora do Recanto dos Pássaros há 32 anos
O3/10/2005.
....é madrugada...confinada em um quarto de hotel revejo (relembro) minha vida! Como tudo é diferente do que plantei! Como é grande a distância entre o que sonhei, almejei e lutei para conseguir e o que estou vivendo agora! Lembro, com o coração, quando, em dezembro de 1971, cheguei, para morar, aqui em Paulínia, na chácara, que tinha ficado abandonada alguns meses, do mesmo ano, desde que meu pai faleceu:- O cheiro do mato alto, das árvores, umas em flor, outras com frutos, perfumava tudo. Cheguei no paraíso, no meu paraíso!!A casa fechada, há alguns meses, não estava terminada, mas era linda! Sólida! Fresca! Alta! Tinha, em cada tijolo, o amor do meu pai! ...e era minha (doce ilusão!)!
Meu coração transbordava de amor, não cabia no peito de tanta felicidade! Eu estava realizando meu sonho de viver junto à natureza e na casa que meu pai tinha construído para mim!Tudo a minha volta era vivo! Verde! Selvagem! Doce! Aconchegante! Acolhedor! Eu me sentia protegida de tudo e todos! Era o meu lugar, o meu canto!
Era o meu ninho!
Muitos amigos me invejavam; muitos me condenavam dizendo que era fuga, que eu era covarde e estava fugindo da sociedade; outros, ao contrario, diziam que eu era corajosa , que precisava ter coragem para viver no meio do mato, longe de todo conforto que eu desfrutava na cidade e que covardia seria se eu procurasse uma realidade mais fácil, mais cômoda. ....mas eu escutava por um ouvido e deixava sair pelo outro..Eu queria ser feliz e era! Eu queria viver (realizar) meu sonho e tinha conseguido!Eu queria paz, sossego, silêncio, água e ar puros, frutas à vontade, queria ter minha horta, ter meus bichinhos, queria tomar banho pelada na chuva!
Queria, ao amanhecer, sair no terreiro e vendo o sol surgir entre as folhas e galhos, cumprimentar as árvores, os passarinhos em festa e molhando os pés no orvalho, que a noite tinha deixado na grama, rir, sorrir e gritar
- “Bom dia!”, de braços abertos para o céu, agradecendo a felicidade que eu tinha alcançado junto à natureza pura que me acariciava...
... eu queria só isso!... eu tinha tudo isso!.
...e a Shell me tirou de lá
...ciomara
...3 de outubro era o dia do aniversário do meu pai.
Dedico e agradeço a êle todo esse amor que ainda explode no meu peito.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
VIOLAÇÃO E VIOLÊNCIA
RETROSPECTIVA.
Sábado, Fevereiro 17, 2007
VIOLAÇÃO AO DIREITO À SAÚDE
XX
X
Situações paradigmáticas de violação ao direito à saúde
XX
X
e
**Lúcia Maria Xavier
Segundo a atual proprietária da planta, a Basf, temos resumidamente, no histórico dessa fábrica, os seguintes acontecimentos:
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Entre os diversos agroquímicos que passaram a ser ali formulados, incluíam os inseticidas organoclorados Aldrin, Endrin e DDT e a produção de inseticidas organofosforados.
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Convém ressaltar que os incineradores foram desativados após 16 anos de uso por não atenderem aos padrões técnicos de emissão exigidos pela Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo - Cetesb. Durante este período, a empresa contaminou o lençol freático nas proximidades do Rio Atibaia, um importante manancial da região, com os organoclorados aldrin, endrin e dieldrin.
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Nesse processo foi identificada uma rachadura numa piscina de contenção de resíduos que havia contaminado parte do lençol freático.
A empresa realizou uma auto-denúncia junto ao Ministério Público que deu origem a um termo de ajustamento de conduta, condição imposta pela compradora, a Cyanamid.
Nesse sentido, a Shell teve que se encarregar da construção de uma barreira hidráulica para evitar o avanço da contaminação do lençol freático.
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A Shell manteve em sigilo o relatório do laboratório Lancaster até março de 2000, alegando que o seu resultado foi um “falso positivo”.
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Os exames constataram a presença de dieldrin na água.
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Diante de tais resultados, pela primeira vez, a Shell admitiu ser a fonte da contaminação das chácaras das redondezas.
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Em fevereiro de 2001, cerca de 100 moradores da região fizeram uma vigília de vários dias em frente à fábrica.
A Prefeitura de Paulínea contratou o laboratório de toxicologia da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp) para realizar os respectivos exames de análises clínicas.
Desses, 88 apresentam quadro clínico compatível com intoxicação crônica, 59 apresentavam tumores hepáticos e da tireóide e 72 estavam contaminados por drins. Das 50 crianças de até 15 anos de idade avaliadas, 27 manifestavam quadro clínico de contaminação crônica.
Em setembro de 2001, o Greenpeace enviou um relatório sobre o caso para os diretores da FTSE 4 Good, um índice ligado à bolsa de valores de Londres para investimento socialmente responsável, que lista empresas de acordo com seu comportamento ético.
Em fevereiro de 2003, toda a região do bairro adjunto à planta da empresa sofreu uma grande inundação, proveniente da cheia do Rio Atibaia, potencializando os riscos de exposição e intoxicação da população. Toda a área foi interditada pela defesa civil de Paulínea, com a remoção de todos os moradores que ali ainda se encontravam, com exceção de três famílias que recusavam-se a abandonar seus lares.
Em junho de 2002, a câmara dos deputados promoveu uma audiência pública em Brasília para discutir a situação dos ex-funcionários da Shell S/A, com a participação de representantes dos ex-trabalhadores, do sindicato dos químicos unificados de Campinas, da Shell e de seu consultor médico.
Na mesma época, um ex-funcionário da empresa confirma a existência de quatro aterros clandestinos dentro da área da fábrica, onde a Shell depositava cinzas do incinerador e resíduos industriais.
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Embora o estudo não tenha analisado a contaminação e exposição pelos inseticidas organoclorados, o mesmo descreve 177 casos de intoxicações subclínicas e um caso de intoxicação clínica pelos organofosforados entre os trabalhadores da empresa, durante o período de 1978 a 1982, o que indica um grau elevado de exposição.
É importante ressaltar que o agrotóxico produzido e manipulado por este contingente de trabalhadores foi desenvolvido e patenteado pela própria Shell, cuja criação e formulação é mantida em segredo pela empresa.
Hoje, a antiga planta da Shell pertence à Basf, que a comprou da Cyanamid no ano de 2000.
Para defender seus direitos e responsabilizar a Shell Brasil S.A. por esse crime de contaminação, os hoje 844 ex-trabalhadores da empresa formaram a Comissão de Ex-Trabalhadores da Shell que, juntamente com a Regional de Campinas do Sindicato Químicos Unificados, vem atuando em várias frentes nesse trabalho, nos campos da saúde, do jurídico e em ações políticas.
Preocupado com as denúncias feitas, a princípio pelos moradores e posteriormente pelos ex-funcionários, da ocorrência de contaminações por produtos químicos provenientes da fábrica da Shell Brasil S.A. localizada em Paulínea, a Regional de Campinas do Sindicato Químicos Unificados buscou a empresa para tratar o assunto com a seriedade que ele merece.
Desde o começo do ano de 2001 o sindicato procurou estabelecer contato direto com a Shell e, depois de muitas tentativas infrutíferas, somente conseguiu algo concreto quando foi marcada uma reunião na sede da entidade, em Campinas, no dia 5 de maio de 2001. Nesse dia foi entregue aos representantes da empresa uma pauta de reivindicações contendo os seguintes pontos:
1) o acesso aos prontuários, exames e estudos de saúde realizados em todos os trabalhadores;
2) a garantia de exames de saúde específicos, de qualidade e confiança dos trabalhadores, dando conta da condição atual de saúde dos mesmos;
3) a listagem de todos os trabalhadores, ex-funcionários ou não, que laboraram na planta de Paulínea;
4) informações sobre substâncias, produtos e resíduos manipulados no Centro Industrial Shell Paulínea - CISP.
No dia 31 de maio, a Shell, atendendo às reivindicações, informou que:
Posteriormente, no que diz respeito à entrega dos prontuários médicos aos ex-funcionários, a Shell concordou em fornecê-los àqueles que se dirigissem pessoalmente ao consultório médico, independentemente de submetê-los a exames. Soube-se mais tarde, através de declarações entregues a alguns pacientes solicitantes, que tais prontuários médicos não se encontrariam mais em poder da Shell. Convém aqui lembrar que a guarda destes documentos por um período de 20 anos decorre de obrigação prevista na legislação (NR 7).
A Shell, no entanto, a partir daí, radicaliza quanto a forma de se estabelecer um protocolo único entre a empresa, o sindicato e a comissão para a avaliação clínica dos trabalhadores na medida em que ela, assistida por seu departamento médico, apresentou uma proposta técnica que se figura flagrantemente insuficiente para as necessidades que o caso requer.
Isto porque, diante da complexidade do tema abordado, demonstra-se primordial definir, científica e metodologicamente, as doenças, lesões, males ou quaisquer alterações - físicas, fisiológicas, metabólicas, psíquicas, mentais ou neurológicas - que possam ser causadas por exposição, inalação, contato, ingestão de drins e derivados, metais pesados, hidrocarbonetos policíclicos, dioxinas e furanos, sem prejuízo de outros elementos que possam interferir, direta ou indiretamente, no diagnóstico suspeito de doenças daí decorrentes. E a Shell, desde então, mantém-se firme na negativa em buscar, conjuntamente, essas definições.
Buscando se aproximar ao máximo dos objetivos acima, a Regional de Campinas do Sindicato Químicos Unificados, através de seu assistente médico, elaborou um protocolo médico próprio, o qual, além de mais completo e abrangente, prioriza a realização de um trabalho em conjunto, sob o controle e ingerência dos próprios trabalhadores (representados pela Comissão de Ex-Trabalhadores), da entidade sindical e da empresa Shell, sendo essas duas últimas assistidas por seus departamentos médico e por suas assessorias técnicas.
Diante dos pontos de discordância travados na questão protocolos médicos, o sindicato buscou, ainda no final de 2001, a realização de reunião em conjunto com a Shell, contemplando a feitura de um método de trabalho único e comum, o que até a presente data não se revelou possível por omissão acintosa e deliberada da empresa.
b) a melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente;
c) a prevenção e tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais e outras, bem como a luta contra essas doenças;
d) a criação de condições que assegurem a todos assistência médica e serviços médicos em caso de enfermidade.
e) Diminuição da morte materna no Brasil.
f) Punição da empresa Shell
domingo, 10 de agosto de 2008
DORME COM UM BARULHO DESSE!!!!!
Não sei como tenho sido compreendida em tudo que escrevo nesse blog, mas gostaria de esclarecer, se eu não tiver sido bem clara, que a minha situação no "Caso Shell", me preocupa, me revolta, me consome, mas o que deve ser levado em consideração é um fato maior, o fato de uma Multinacional ter invadido nosso país para fazer o que fez e faz ( e o que mil outras fizeram e continuam fazendo) e com o consentimento dos "órgãos competentes"(hahahahaha) do nosso país!... ...e continuar impune! A informação abaixo, EM VERMELHO, recebi de uma pessoa (que me pediu outra informação do caso shell por e-mail) e essa informação está na tese da Dra. June no site www.quimicosunificados.com.br , eu apesar de ter lido a tese, deixei passar em branco essa informação importantíssima, que eu já sabia, mas não me lembrava.