quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
AÇÃO CIVIL PUBLICA. TRECHOS DA INICIAL JULHO 2007
ATÉ HOJE AINDA SINTO E CHORO PELA MINHA PERDA
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Durante essas décadas em que ali
viveram, a co-Requerente Ciomara criou seus filhos, viveu da terra cultivando
pomar e plantações, vendeu seus produtos, criou animais de estimação e vacas.
Diferentemente
da maioria das pessoas que trabalham nesse ramo, a Requerente Ciomara possui
ligação fortíssima de cunho afetivo com seus animais, demonstrando profundo
respeito para a natureza que lhe cercava e garantia sua existência.
De
fato, ao contrário do que pensaríamos ouvindo um relato dessa natureza, não se
trata de pessoa de origem humilde e educação restrita. Pelo contrário,
demonstrando alto nível intelectual, a Sra. Ciomara realmente optou de forma
consciente por uma vida junto à natureza, onde desfrutava de tranqüilidade e
vida, aparentemente, saudável.
Ali
criou seus filhos e viveu por mais de 30 (trinta) anos.
Para
que se compreenda o aqui alegado, pedimos vênia para transcrever trecho de
correspondência eletrônica enviada pela co-Requerente Ciomara na data do dia 03
de abril de 2004 (doc. 24), sendo
que sua reação ao ocorrido pode ser medida pelas seguintes colocações:
“ Para cumprir ordens e obedecer à
justiça é que me encontro, hoje hospedada no hotel IBIS de Paulínia e não por
vontade própria ou opção. Humilhações,
restrições, discriminações, falta de privacidade e imposições passaram a fazer
parte do meu dia a dia. (...)
Separada dos meus animais, da minha maneira de
viver, da liberdade e autonomia que sempre desfrutei, procuro não sucumbir. Decepada nas minhas raízes, obedecendo a
determinações e cumprindo a lei, agonizo.
Nunca,
em minha vida, cogitei sair da minha casa. (...) Onde eu colhia
minhas frutas, legumes e verduras o ano todo, onde eu criava as minhas vacas,
onde, e donde, eu tirava todo meu
sustento e de minha família.
Que eu pague por ter escolhido viver
em paz junto à natureza; que eu pague por amar o que meu pai construiu, com
muito amor, para mim; que eu pague por não querer sair do local onde passei
minha infância e criei meus filhos; que eu pague por ter ousado querer viver,
até a morte, em local disputado por poderes e poderosos; que eu pague pela
ousadia de querer ser feliz dentro do que me pertence e que hoje está sendo
usurpado de mim. Chega de humilhações,
mentiras e distorções de fatos e atitudes!”
Quando
sua saída do imóvel já havia sido determinada, a co-Requerente Ciomara chegou a
enviar correspondência aos representantes da Shell externando sua preocupação
com seus animais, conforme se extrai do seguinte trecho:
“(...) Gostaria que vocês
entendessem que não é o valor das vacas que estão em primeiro lugar pra mim, e
sim o que elas representam. Se meus filhos estão bem, se nunca passamos fome,
foi graças a elas. O que está em jogo é
o respeito, a gratidão e o amor a quem devo minha sobrevivência e a dos meus
filhos (...)”.
Por
esses motivos é que se faz necessária a pormenorização dos danos causados e derivados
da impossibilidade de desfrutarem de sua propriedade.